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Isacc Sprinz

SUPERVISÃO EM PSICOTERAPIA

Nos meus sessenta anos  de experiência e transmissão deste aprendizado  em psicoterapia psicanalítica, consolidou-se minha convicção de que o mesmo se estabelece, sobretudo, no ambiente da supervisão. Aprendi que o processo psicoterápico de orientação psicanalítica repousa sobre uma interação constante do sentir, pensar e agir do terapeuta e do paciente. Dentro deste contexto, o terapeuta encontra-se muitas vezes numa situação em que é extremamente indefeso e desprotegido: a situação terapêutica. Quero dizer, uma situação na qual a única certeza que ele pode ter é a de que ele tem muito mais chance de não compreensão do que acontece , do que o oposto. Se é difícil interpretar, mais difícil é interpretar certo.

Mas, paradoxalmente, ele pode não desejar estar a par desta questão. Então, ele pode tropeçar ou entrar por atalhos. Pode preferir resguardar-se dentro de seus conhecimentos teóricos ou esconder-se através de sua erudição por meio de um jogo de palavras. O esforço parece objetivar uma espécie de compensação da dolorosa dificuldade clínica, ou seja, às magras possibilidades de compreensão. Ao insight e interpretação opõem-se sofisticadas formulações teóricas ou ousadas conjeturas intelectuais, que, muitas vezes, ocupam o espaço mental destinado ao desenvolvimento da acuidade clínica, dos sonares para a captação dos estados emocionais mais profundos e do afinamento da comunicação com o paciente. Pode existir uma contradição entre a humilde, impossível, limitada e precária posição do terapeuta, e a arrogância, presunção e onipotência de posicionamentos teóricos. Ao terapeuta não é permitido camuflar de si mesmo suas dificuldades inerentes ao processo terapêutico no qual está envolvido.

Contra estas intempéries, o porto mais seguro é, sem dúvida, a supervisão. A aprendizagem da psicoterapia psicanalítica consiste num longo e complexo processo de sedimentação e de consolidação de conhecimentos teóricos, muito particular para cada indivíduo, integrados a uma continuada prática clínica e acompanhados de significativas transformações internas, especialmente no que diz respeito à própria vivência do que é o insight. Freud já percebera que a nossa compreensão de outras pessoas só vai até onde nosso próprio inconsciente nos permite. Por isso o tratamento pessoal do terapeuta, de no mínimo duas vezes por semana, e o mais abrangente possível, é fundamental. Após uma longa experiência formando psicoterapeutas, observamos que cada candidato requer um tempo individual para concretizar sua formação e que este processo requer uma prática supervisionada de, pelo menos, três a cinco anos. E é neste ambiente de supervisão, aliado ao tratamento pessoal, que o processo de aprendizagem melhor frutifica.

Em consequência, recrudesce a importância da formação do supervisor. Este normalmente é um profissional com mais experiência. Mas a tarefa exige mais do que isto. Por isso, acredito que a tarefa de supervisionar exige uma formação específica, tanto quanto a do terapeuta. Não se trata de burocratizar a formação do supervisor, mas adequá-lo a uma relação com o supervisionado tão complexa quanto a do terapeuta com seu paciente; relação que muitas vezes é relegada a um plano secundário e, por isso, necessita de uma atenção especial, especialmente daquelas instituições que se propõem a formar psicoterapeutas.


Autor: Isacc Sprinz – Coordenador do ESIPP

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