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SUPERVISÃO: PARA QUÊ?

Cristiane Faria

No dicionário, supervisionar significa: ato ou efeito de dirigir, inspecionar e orientar.

Ampliando, um pouco mais, encontramos ainda nas histórias em quadrinhos e nos filmes de super-heróis a super visão, um poder que permite ver além daquilo que se apresenta, ou seja, além da coisa posta/vista.

Muito mais que esses conceitos usuais, encontramos na prática clínica de orientação psicanalítica a supervisão como instrumento que (re)orienta o encontro terapeuta-paciente.

Mas por que é necessário supervisionar um caso? Quando a supervisão como elemento fundamental desse tripé psicanalítico que envolve, também, análise pessoal e estudo da teoria, constituiu como prática?

Para isso, voltaremos ao início do século XX, quando Sigmund Freud (1856-1939) analisa a jovem histérica Dora e revela a Fliess em correspondência (21 de setembro de 1897): “Não acredito mais em minha neurótica, o que não há de ser compreensível sem uma explicação.” A carta de Freud a Fliess me leva a pensar numa espécie de troca, onde Freud compartilha com o amigo a percepção do seu trabalho clínico no atendimento com Dora. Uma partilha que busca o olhar do amigo para aquilo que se apresenta, ou seja, Fliess é convidado a olhar a cena que se deu com a dupla terapeuta-paciente mantendo a distância necessária que os possibilite ampliar a visão para além daquilo que se deu no próprio setting.

Imaginemos…

Quando Freud escreve a Fliess, seu primeiro movimento é evocar através da memória -trazer para o presente -, o encontro ocorrido com a paciente – passado. Para isso, usa a escrita como forma de apresentar a Fliess a percepção da história vivida. A partir desse momento, se constitui uma tríade que expande o campo, outrora reduzido a uma díade. Em outras palavras, Freud abre espaço para que um terceiro entre, e desfaça a relação dual necessária.

Isso também acontece no encontro que se dá entre supervisor e supervisionando, onde o terapeuta revive a história vivida no setting, primeiro na escrita e depois diante do olhar do outro-supervisor. Uma triangulação – terapeuta-paciente-supervisor – que permite que o paciente seja sonhado, na tentativa de ressignificar uma história ainda não contada. Assim como nos lembra Ogden (2010) que uma pessoa, quando procura um psicoterapeuta e está sofrendo emocionalmente, sem saber está impossibilitada de sonhar sua própria história. O sonho é a capacidade de experienciar emocionalmente algo que não pode ser ainda vivido, ou seja, é poder crescer ou se tornar diferente. Algo que só pode ser vivido se foi antes sonhado, imaginado.

Esse para mim é o papel fundamental da supervisão, permitir que o paciente seja sonhado tendo como sustentação a base terapeuta e supervisor, como se fosse embalado em um cuidado que permite sonhar aquilo que ainda não foi sonhado e talvez nunca tenha sido.

 

Autora: Cristiane Faria, Psicóloga e Membro Associado do ESIPP.

 
 
 

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